Oie.... Feliz Ano Novo!!!
Confesso que terminei meu ano literariamente extasiada!!!
Tenho que compartilhar com vocês
uma das melhores escritoras que já li na vida. Digamos que depois de Clarice
Lispector é a escritora q mais gosto: Adriana Lisboa.
O primeiro livro que li dela foi Azul Corvo, e ele é simplesmente
m.a.r.a.v.i.l.h.o.s.o. Inclusive vou relê-lo e fazer um comentário aqui...
Depois li Um beijo de Colombina, que é mais maravilhoso ou tão incrível
quanto o primeiro que li, apesar de estilos diversos. Depois posso fazer umas
considerações sobre ele!
Ontem eu terminei de ler Rakushisha, e não diverso dos outros,
fiquei encantada. A maneira como ela narra é deliciosa. Nesse livro, por
exemplo, ela mescla diversos tempos e diversos lugares e personagens, que, de
uma forma ou de outra, mantêm certa relação entre si.
Ambientado no Japão e no Rio de
Janeiro, deixa a narrativa bem diferente e inclui também fragmentos de Bashô,
poeta japonês, precursor do Haicai. Uma forma lúdica e prazerosa de tomarmos
contato com esse mundo incrível dos haicais... e de Bashô, e do Japão... tão
misterioso e distante terra do sol nascente.
Já em Um beijo de Colombina, ela introduz-nos no universo de Manuel
Bandeira, que confesso ter ficado ainda mais apaixonada por sua poesia – de Bandeira
de Lisboa. Sim, a escrita de Adriana Lisboa é poética, mesmo escrevendo em prosa.
É linda, profunda, quase visceral em determinados momentos...
Separei alguns excertos de Rakushisha para ilustrar a poesia nas
descrições que ela faz, na sua narrativa. Como por exemplo sua descrição do
DETRAN, que podemos estender à todos as instituições burocráticas: “Vinha do
DETRAN. Lá dentro, na bolha morna do tédio burocrático, ventiladores imensos e
prateados passeavam no ar que mesmo se agitando permaneciam parado. Até mesmo o
vento era parado ali. Era um lugar sem tempo. As coisas não aconteciam nem
desaconteciam. As pessoas em romaria se conformavam, e mesmo as inconformadas
eram de um inconformismo conformado.” (LISBOA, p. 130)
“Minha dor é minha: marca na
pele, feito vermelhidão da queimadura. Existe como uma visita na sala de estar.
A dor, senhorinha sentada no canto do sofá.” (LISBOA, p. 128). Aqui tem espaço
inclusive para metáforas...
E por fim, a tradução do sentimento
de não pertencimento (aliás, quem nunca?): “Gosto dessa familiaridade da
estranheza, de que de repente me dou conta. Gosto de me sentir assim alheada,
alguém que não pertence, que não entende, que não fala. De ocupar um lugar que
parece não existir. Como se eu não fosse de carne e osso, mas só uma impressão,
mas só um sonho, como se eu fosse feita de flores e papéis e um tsuru de
origami e o eco do salto de uma rã dentro de um velho poço ou o eco dos saltos
de uma mulher na calçada (...).” (LISBOA, p. 133).
Ah, e ainda por cima, Adriana Lisboa é vegana (ou
vegetariana...), o que querem mais?