sexta-feira, 6 de julho de 2012

S. Bernardo, Graciliano Ramos

Enfim, S. Bernardo!!!!




Gente, tudo o que eu for falar sobre S. Bernardo, são impressões pessoais e alguns conhecimentos básicos acerca da obra e do autor... Não tomem esses comentários como únicos e incontestáveis, ok?

Primeiramente, tenho que falar algumas poucas palavras sobre Graciliano Ramos: nascido na cidade de Quebrangulo, no interior de Alagoas em 1892, tendo vivido os primeiros anos de sua vida em várias cidades do Nordeste; a partir de 1915 viveu em Palmeiras dos Índios, Alagoas novamente, cidade em que chegou inclusive a ser eleito prefeito, no ano de 1927; esquerdista; preso político na ditadura de Getúlio Vargas; com grande preocupação social (demonstrada em alguns de seus livros, inclusive em S. Bernardo)

O protagonista de São Bernardo é Paulo Honório. Retrato da pessoa infeliz, que buscou, sem sucesso, a felicidade por meio da fortuna e posse. Homem que vivia para oprimir os mais fracos e desprotegidos. Por fim, ele mesmo admite ter se tornado (ou ser) um bruto e egoísta: “Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo” (p. 221). Paulo Honório é insensível, cuja “vida agreste” lhe deu uma “alma agreste”: “O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada” (p. 216). Sua linguagem capitalista retrata o que ele é apenas, uma pessoa interessada em posses, lucro, vantagens: “- Devia ter feito economia. 
São todos assim, imprevidentes. Uma doença qualquer, e é isto: adiantamentos, remédios. Vai-se o lucro todo.” (p. 111).

A obra é classificada como romance psicológico, voltado para o interior das personagens. Entretanto, não se pode descartar o retrato da sociedade que é feito por Graciliano Ramos, ou seja, a realidade externa também é explorada na obra. A sociedade rural é mostrada com certo detalhe, a eterna discussão acerca da propriedade da terra, e outros conflitos sociais e até políticos, também aparecem com frequencia em S. Bernardo.

Favores Políticos: “Escola! Que me importava que os outros soubessem ler ou fossem analfabetos?” (p. 50). “De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar” (p. 51);

Papel da imprensa: “- E querendo defender-se, tem cá o Cruzeiro, insinuou Azevedo Gondim. Pode escrever. Ou então escrevo eu, ou escreve o Nogueira. Infelizmente o Cruzeiro circula pouco. Mas é o que temos. Disponha.” (p. 81).

Respeito aos poderosos: “Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a 
terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do dr. Magalhães, juiz.” (p. 49).

Em muitos momentos é enfatizado os aspectos ruins da sociedade, mas não de forma negativa (se é que isso seja possível), mas um despertar para os problemas do homem.

Uma coisa os estudantes de vestibular não podem reclamar, é a linguagem despojada em S. Bernardo, com aproximação muitas vezes da linguagem escrita da linguagem falada.

S. Bernardo é uma propriedade localizada no município de Viçosa, Alagoas.

O romance é escrito em 1ª pessoa (é o próprio Paulo Honório quem narra) e abusa da metalinguagem, o que eu adoro e me lembra um pouco o fofo do Machado de Assis, e assim é a primeira frase dele: “Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.” (p. 07);

Na verdade trata-se das memórias de Paulo Honório (ele narra os fatos aos cinquenta anos de idade): “Há fatos que não revelaria, cara a cara, a ninguém. Vou narrá-los porque a obra será publicada com pseudônimo.” (p. 12). Adorei!!!!

O tempo da narrativa é não linear (não é uma narrativa cronológica, mesmo porque tratam-se de memórias): “De resto isto vai arranjado sem nenhuma ordem, como se vê” (p. 12); “Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas.” (p. 48). A narrativa inicia pelo fim, eis que no inicio do capítulo III, Paulo Honório fala “Começo declarando que me chamo Paulo Honório, peso oitenta e nove  quilos e completei cinquenta anos pelo S. Pedro.” (p. 14).

Alguns personagens e adjetivos que eu atribui:

Madalena, a escolhida, pois “é sisuda, econômica, sabe onde tem as ventas e pode dar uma boa mãe de família.” (p. 102); O próprio Paulo Honório assim a descreve: “Madalena possuía um excelente coração. Descobri nela manifestações de ternura que me sensibilizaram. E, como sabem, não sou homem de sensibilidades. É certo que tenho experimentado mudanças nestes dois últimos anos. Mas isto passa.” (p. 121).  

Seu Ribeiro, o guarda-livros: “[...] um velho alto, magro, curvado, amarelo, de suíças, chamado Ribeiro.” (p. 44) – adorei esse adjetivos...; “Seu Ribeiro tinha setenta anos e era infeliz, mas havia sido moço e feliz.” (p. 44); Quando era moço, “Seu Ribeiro enraizou-se na capital. Conheceu enfermarias de indigentes, dormiu nos bancos dos jardins, vendeu bilhetes de loterias, tornou-se bicheiro e agente de sociedades ratoeiras. Ao cabo de dez anos era gerente e guarda-livros da Gazeta, com cento e cinquenta mil-réis de ordenado, e pedia dinheiro aos amigos.” (p. 46).

João Nogueira, o advogado, meio pedante: “João Nogueira lembrou-se de que era homem de responsabilidades. Bacharel, mais de quarenta anos, uma calvície respeitável. Às vezes metia-se em badernas. Mas com clientes só negócios. E a mim, que lhe dava quatro contos e oitocentos por ano para ajudar-me com leis a melhorar S. Bernardo, exibia ideias corretas e algum pedantismo.” (p. 53)

Dr. Magalhães, aquele que quer aplausos: “O dr. Magalhães é pequenino, tem um nariz grande, um pince-nez e por detrás do pince-nez uns olhinhos risonhos. Os beiços, delgados, apertam-se. Só se descolam para o dr. Magalhães falar a respeito da sua pessoa. Também quando entra nesse assunto não para.” (p. 73).
Ainda tem o Casimiro Lopes, o criado fiel, “corajoso, laça, rasteja, tem faro de cão e fidelidade de cão” (p. 19); Padilha, o parasita fofoqueiro; D. Glória, a sogra, “velha acanhada: sorriso insignificante e modos de pobre” (p. 85); entre outros maravilhosos... 

Baci

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